Eram Vários Mitos - Hércules

Mitologia Grega é fascinante, não é? A Disney também! Ao juntarmos as duas, então, temos algo extraordinário. A casa do Mickey já havia flertado com a mitologia grega em 1940, no segmento A Sinfonia Pastoral, do filme Fantasia, mas somente em 1997, com Hércules, a mitologia foi o tema principal de um animado da Disney. No entanto, diversos mitos são visivelmente inadequados para serem reproduzidos literalmente em um filme voltado para o público familiar (principalmente o infantil). Sendo assim, os produtores de Hércules atenuaram ou até mesmo modificaram diversos pontos da história para que ela se adequasse ao que era aceitável. Hércules faz um passeio por diversos fatos da mitologia, fazendo referência a diversos mitos e até mesmo outros heróis, como Orfeu, por exemplo. 

Mas como foi dito acima, muita coisa foi modificada e é sobre essas diferenças que vamos tratar. Pegue seu passaporte, seus óculos de sol e sua máquina fotográfica, porque vamos fazer um passeio até a Grécia Antiga! Todo mundo pronto? Vem com a gente!

1) O nome do Herói

Vamos começar pelo nome do protagonista e do filme. Talvez você não saiba, mas Hércules é o nome romano do herói mitológico. Quando a Grécia foi dominada pelo Império Romano, os romanos assimilaram os deuses gregos já existentes e lhe deram novos nomes e algumas características unicamente romanas. O nome original era Herácles (que significa: a glória de Hera, nome provavelmente dado para aplacar a fúria da Rainha dos deuses, falaremos disso mais adiante). Hoje em dia, conhecemos melhor os personagens da Mitologia por seus nomes originais gregos, mas por alguma razão o nome Hércules ficou mais popular e conhecido do que o original Herácles e por isso a Disney decidiu usá-lo apesar do filme se passar na Grécia Antiga.

2) Origem Divina ou Mortal?

No filme, Hércules nasce um deus, filho de Zeus e Hera. Tudo é feliz e dentro de um casamento fiel e equilibrado. Na mitologia, a situação é bem diferente. Zeus, Senhor do Olimpo, deus dos Céus e dos Raios, poderia muito bem ser conhecido também como o deus do Adultério, já que constantemente descia a Terra e tinha envolvimentos amorosos com várias e belas mortais (alguns vários e belos mortais também, mas isso é outra história). Desses ‘deslizes’ nasciam diversos filhos e Hércules foi um deles. Hércules foi fruto do caso entre Zeus e a mortal Alcmene, que por sinal é a mãe adotiva de Hércules no animado da Disney.

3) O Fiel Amigo Pégaso

A Disney idealizou o belo cavalo alado Pégaso como amigo e companheiro leal do nosso herói Hércules. Vemos o seu ‘nascimento’ quando Zeus o cria usando as nuvens ao seu redor e o presenteia a seu filho recém nascido. Já na mitologia, as origens de Pégaso são bem mais complexas, bizarras e ligadas à outra figura mitológica bastante conhecida: a Medusa. Medusa era uma bela mulher que cometeu a burri... digo, imprudência de ter um encontro amoroso com Poseidon, o deus dos Mares, em pleno templo da deusa Atena. Os dois deuses mantinham uma rivalidade, pois ambos tentaram ser o patrono da cidade grega de Atenas. Atena ganhou a disputa e os dois não se bicam desde então. Quando soube de tal afronta, a deusa da Sabedoria ficou furiosa e puniu Medusa transformando-a no monstro que conhecemos, com serpentes no lugar dos cabelos e com a capacidade de transformar em pedra quem olhasse diretamente nos seus olhos. Porém, Medusa estava grávida de gêmeos quando foi transformada em monstro, assim as crianças ficaram aprisionadas dentro dela, impedidas de nascer. Quando o herói Perseu matou a Medusa, cortando-lhe a cabeça, as duas ‘crianças’ saltaram de dentro dela (prático, normal). Uma delas era o não tão famoso guerreiro Crisaor, cujo nome significa Espada de Ouro e... o cavalo alado Pégaso. Talvez um dos filhos fosse um cavalo porque Poseidon criou os cavalos a partir da espuma do mar, o que não muda o fato de que é bastante estranho. Algumas versões nos contam que Pégaso nasceu quando o sangue que pingava da cabeça decepada da Medusa tocou o solo. De qualquer modo, a origem do cavalo alado está atrelada à Medusa. Ah, outra coisa, Pégaso não teve nenhuma relação com Hércules na mitologia, ele foi domado por outro herói: Belerofonte.

   4) A Tragédia

Hércules e Meg são um lindo casal, que viveram felizes para sempre na produção da Disney. As origens de Meg não são citadas no filme, mas na mitologia, Mégara era a filha mais velha de Creonte, rei de Tebas. Ela casou-se com Hércules, como recompensa por livrar a cidade de Tebas de um tributo que tinha de pagar à cidade de Orcómeno. Juntos tiveram três filhos, embora algumas versões digam que foram oito. Porém a história deles terminou com um final nada feliz. Por ser traída pelo marido Zeus inúmeras vezes, Hera sempre perseguia e atormentava os semideuses, frutos da infidelidade do Senhor do Olimpo, com Hércules não foi diferente. Hera lançou uma maldição sobre ele, então o herói teve um acesso de loucura, assassinando Mégara e seus filhos. Como se não bastasse, Hércules ainda teve de realizar os famosos Doze Trabalhos como penitência. Muito triste :(

   5) A Segunda Tragédia e a Vida Divina

Depois de realizar os Doze Trabalhos, Hércules casou-se novamente, desta vez com Dejanira, filha de Eneu, Rei da Etiólia. É aí que entra um personagem crucial na trajetória do nosso herói: Nesso e que também está no filme, porém com um objetivo diferente, ele tenta seduzir Meg, que por sua vez queria convoca-lo para o exército de Hades. Já na mitologia, certa vez tendo de atravessar o rio Eveno, Hércules pediu ao centauro que conduzisse Dejanira ao ombro, enquanto ele faria a travessia a nado. No meio do caminho, Nesso se lembrou de um insulto que Hércules havia lhe dirigido no passado, resolveu, por vingança, raptar-lhe a esposa, passando, a galopar rio acima. O herói, tendo percebido as suas intenções, aguardou que ele alcançasse terra firme, e então atravessou-lhe o coração com uma flecha envenenada. Nesso tombou, e, enquanto agonizava, deu a Dejanira a sua túnica manchada com o seu sangue tóxico, convencendo-a de que seria, para ela, um precioso talismã, com a virtude de trazer de volta o esposo, se algum dia ele a abandonasse. Mais tarde, Hércules apaixonou-se pela sedutora Iole (vejam como fidelidade conjugal não era algo levado a sério na Mitologia Grega), e estava disposto a viver com ela, quando recebeu de Dejanira, como presente, a túnica ensanguentada, e, ao vesti-la, o veneno se infiltrou no seu corpo; louco de dores, ele quis arrancá-la, mas o tecido achava-se de tal forma aderido às suas carnes que estas saíam aos pedaços. Vendo-se perdido, o herói ateou uma fogueira e lançou-se às chamas. Desesperada, Dejanira cometeu suicídio, degolando a si mesma com uma espada. Logo que as chamas começaram a serpentear no espaço, ouviu-se o barulho do trovão. Era Zeus que arrebatava seu filho para o Olimpo, onde se tornou um deus e recebeu Hebe, a deusa da Juventude, em casamento. Um final bem diferente do nosso querido Hércules disneyano, não é?